Além do Caged, agentes do mercado financeiro também pontuam os impactos das greves em informações do BC e do Tesouro.
O Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) foi instituído pelo Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) pela Lei nº .923/65. Desde então, o sistema permite acompanhar a situação da classe trabalhadora brasileira
O levantamento de dados sobre a geração de emprego e desemprego é realizado mensalmente com o objetivo de verificar os vínculos trabalhistas para a utilização de seguro desemprego e acompanhar a economia do país.
Contudo, desde que os parâmetros do Caged foram alterados e passaram a sofrer constantes revisões, passaram a gerar dúvidas em torno das informações que são divulgadas.
Nesta semana, uma nova revisão da geração de emprego “eliminou” 48 mil vagas que haviam sido divulgadas como criadas em março.
Na publicação dos dados de emprego de abril, os números de março foram reduzidos da geração de 136,1 mil vagas para 88,1 mil.
Já no fim do ano passado, uma revisão ainda maior fez com que a criação positiva de empregos CLT em 2020 de 142,7 mil vagas se tornasse negativa em 193 mil vagas.
De acordo com o economista da Valor Investimentos, Piter Carvalho, a revisão dos dados do mês de março mostrou uma diminuição de 35,2% dos trabalhadores ocupados, o que tem trazido insegurança para o mercado.
“Se você não tem número oficial, não tem meta, ninguém vai criticar porque ninguém sabe os números oficiais. O mercado trabalha, mas sente falta do boletim Focus e ainda desconfia dos dados do governo”, diz.
Dados do Caged
Piter Carvalho também lembra da greve dos servidores do Banco Central, que estão atrasando as divulgações de relatórios, o que pode afetar a divulgação dos dados do Comitê de Política Monetária (Copom) na próxima semana. Além deles, servidores do Tesouro estão paralisados e também há atrasos nas divulgações de relatórios do setor.
O especialista argumenta que há uma comemoração pelo retorno aos patamares de emprego pré-pandemia, mas que já havia desemprego elevado nesse período e que a incerteza em relação aos dados podem gerar efeitos perversos tanto para as análises de mercado quanto para as decisões de governo.
“O que é ruim desses números é que mostram que o Ministro Paulo Guedes e equipe econômica estão em vôo cego. Fatalmente vão tomar medidas erradas na economia ou achar que estão na direção certa. Quando os números são revistos, mostram que eles estão enxergando outra realidade”, pontua.
Empregos formais
No entanto, para o economista Lucas Assis, da Tendências Consultoria, de modo geral, a revisão não altera a análise geral do mercado de trabalho formal.
“É importante destacar que as revisões do saldo líquido de vagas formais pelo novo Caged são frequentes e gradativas”, ressalta.
Ele lembra que até 2020, antes da pandemia, a geração de estatísticas do emprego formal iniciou uma transição, em que o empregador deixou de prestar informações nos sistemas do Caged/RAIS e passou a usar o eSocial.
Como a pandemia afetou fortemente o mercado de trabalho do Brasil, houve um aumento abrupto de fechamento de empresas, o que levou a subnotificações de desligamentos e, consequentemente, em um aumento nas declarações de ajuste fora do prazo.
Foi por isso que em novembro de 2021, houve uma grande revisão de dados que mostrou que em 2020, em vez de geração de empregos no ano da pandemia, houve regressão de empregos. Inicialmente, o governo havia anunciado a criação de 142,7 mil vagas, mas na verdade foram fechadas 193 mil.
Revisão do Caged
Questionada, a pasta diz que a revisão – maior do que o usual – tem a ver com um problema na captação de informações do eSocial e processadas pela Dataprev, o que atrasou a divulgação dos dados referentes ao mês de abril.
“Na segunda quinzena de maio detectou-se uma ocorrência na incorporação dos eventos de alteração contratual do eSocial às bases da Dataprev, o que impediu o registro de todas admissões e desligamentos na competência adequada”, diz a pasta em nota.
Fonte: Portal Contábeis