Anunciado na última sexta-feira em Bruxelas (Bélgica), após uma negociação de idas e vindas que durou duas décadas, o acordo de livre comércio entre Mercosul e União Europeia (UE) deve começar a vigorar, parcialmente, em um prazo de seis meses a um ano.
A estimativa, de fontes do governo brasileiro e do setor privado, leva em conta um dispositivo importante incluído no texto: toda a parte econômica do tratado, incluindo redução de tarifas, abertura do setor de serviços e isonomia nas licitações públicas para empresas instaladas nas duas regiões, só dependerá da ratificação do Parlamento Europeu e dos congressos de Brasil, Argentina, Paraguai e Uruguai.
Isso significa que não será preciso esperar pelo aval dos legislativos dos 28 Estados-partes da UE para que essa parte do acordo comece a valer. Ela entra em vigor provisoriamente até ser apreciada por todos.
Já o braço político do texto, que abrange desde o fortalecimento da cooperação em áreas estratégicas como ciência, tecnologia e inovação, defesa, infraestrutura, meio ambiente e energia; até segurança cibernética, educação, direitos do consumidor e combate ao terrorismo, só entrará em vigor após a ratificação de todos os parlamentos, incluindo os nacionais europeus.
— Uma ratificação plena não seria imediata se tivesse que passar por todos os parlamentos dos países europeus. O Mercosul iria enfrentar dificuldades lá na frente, principalmente por causa do lobby dos agricultores europeus e das entidades ambientais — disse Carolina Pavese, coordenadora do curso de relações internacionais da PUC de Poços de Caldas (MG).
Segundo ela, nas últimas semanas, a Comissão Europeia foi procurada por mais de 340 organizações da sociedade civil pedindo a interrupção das negociações. Esse ambiente mostra que os governos nacionais e os parlamentos serão bastante pressionados a não ratificarem o acordo.
Carolina Pavese citou como exemplo o acordo de livre comércio entre a UE e o Canadá, concluído em 2016. O texto entrou em vigor em 2017, embora ainda não tenha sido ratificado por todos os Estados membros da UE.
— E é um acordo mais simples e menos polêmico do que aquele com o Mercosul — completou.
Para André Favero, subsecretário de Competitividade na Indústria, Comercio e Serviços do Governo do Estado de São Paulo, a expectativa de entrada em vigor em até um ano é otimista, mas pode se concretizar. Ele lembrou, no entanto, que o acordo só vai valer em sua integralidade dentro de 15 anos. A redução de tarifas será gradual para os chamados setores considerados sensíveis, caso do automobilístico, por exemplo.
Ponto a ponto: Entenda os principais pontos do acordo entre o Mercosul e a União Europeia
Pelas regras internacionais vigentes, após o anúncio político, é feita uma revisão técnica e jurídica do acordo e realizada a tradução do texto nas línguas oficiais dos países envolvidos. No caso da UE, o texto estará disponível em 23 idiomas. No Brasil, esse trabalho será feito pelo Itamaraty, que coordenou as negociações com os europeus.